Meu projeto de pesquisa é sobre o ensino de astronomia nos anos iniciais. Com ele pretendo fazer um estudo sobre o ensino e a aprendizagem de alguns conteúdos de astronomia presentes nestas séries. Para poder compreender estes processos de ensino e de aprendizagem, optei por estudar a epistemologia genética de Piaget, e a partir desse referencial teórico compreender como se pode repensar o ensino e a aprendizagem destes conteúdos. Durante as primeiras leituras e aproximações com o tema (ensino de astronomia nos anos iniciais), percebi que temos algumas dificuldades a superar: O ensino escolar, em geral, está baseado na concepção de que a aprendizagem e o ensino se dão ao mesmo tempo; Os professores dos anos iniciais consideram a astronomia muito abstrata para estas séries; Os professores ensinam aquilo que aprenderam na escola sobre astronomia, pois não tiveram necessidade de questionar aqueles saberes durante suas vidas profissionais.
Em geral, o ensino dos conteúdos de astronomia está ligado a memorização de alguns fatos e dados sobre determinados fenômenos, por exemplo, as estações do ano. No entanto, dentro da teoria desenvolvida por Piaget, a aprendizagem significativa se dá por estímulos significativos ESTÍMULOS É UMA PALAVRA QUE NAO COMBINA AQUI, ou seja: “[...] ele se torna significativo somente na medida em que há uma estrutura que permite sua assimilação, uma estrutura que pode acolher este estímulo, mas que ao mesmo tempo produz uma resposta [...][1]” Isso quer dizer que para que a aprendizagem se dê é preciso que o estímulo esteja de acordo com o organismo e sua estrutura cognitiva. E isso me leva a segunda dificuldade apontada anteriormente: o conceito de abstrato e de ação concreta. Grande parte dos professores acredita que para a aprendizagem se dar de forma mais fácil ou significativa, é importante trabalhar com materiais concretos com seus alunos. Para Piaget, o material concreto é importante, inclusive por as operações no inicio do nosso desenvolvimento se dão sobre os materiais, sobre o concreto, no entanto, não se dão apenas com a manipulação física dos mesmos. Uma ação pode ser mental, isto é, sua concretude não está no ato externo, mas na configuração interna da organização do esquema. Por isso a astronomia é muito rica em trabalhar com movimentos internos de pensamento, mudanças conceituais e problematizações acerca da realidade. O terceiro e último ponto é o fato de os professores não questionarem-se sobre aquilo que ensinam. Se aprenderam que é verão quando o sol está mais perto do Sol e inverno quando está mais afastado, então passa a ser verdade, e consequentemente se torna um ensino. Para Piaget, nós só vamos “passar” para estádios mais elaborados se tivermos necessidade disso. Se o meio social e cultural em que estamos não nos exige além daquilo que já temos, não vamos precisar nos adaptar a novas situações. Por enquanto, acredito que é isto que faz com que os professores não percebam os equívocos de seus raciocínios sobre as estações do ano. A concretude dessa idéia de aproximação e afastamento é provada por outras situações cotidianas, sem abstração, não podemos compreender que é equivocada pois, haveria de ter uma estação por vez em todo o planeta durante o ano.
Nesse sentido penso que a teoria de Piaget tem muito a contribuir com a problematização e a proposição de novas formas de pensar o ensino de astronomia nos anos iniciais. Só o fato de compreender como as crianças aprendem certamente já muda muito daquilo que pensamos ser ensinar.
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