domingo, 12 de setembro de 2010

Reescrita_ Carla Crivellaro

Se Piaget tivesse surfado nas Ondas teria sido outro mar...

No texto analisado, Cesar Coll e Cristiane Gillièron apresentam, com base nas teorias Piagetianas, o desenvolvimento ontogenético do pensamento racional.
Para Piaget a evolução da inteligência constitui uma forma organizadora. Esta se dá qualitativamente por meio da ação, em períodos, estágios e estruturas cognitivas diferentes, a qual atribui a três elementos: ação, esquemas e estruturas. A ação é o instrumento através do qual conhecemos os objetos. Dessa interação surgem as formas pensamento. Exercitar a ação, segundo Piaget, pode acontecer de duas formas: a primeira, aprender através de esquemas, pela experiência física. Conhecer os objetos é assimilá-los a seus esquemas. O esquema é o quadro assimilador. Permite compreender a realidade atribuindo-lhe significações. É a unidade básica e o ingrediente elementar das formas pensamento. Os esquemas se conservam internamente quando aparecem. A segunda, a experiência lógico-matemática, as estruturas. Estas são combinações de esquemas com propriedades diferentes. Aqui o sujeito não trata de conhecer as propriedades do objeto, mas experimenta com suas próprias ações, com seus esquemas, para abstrair suas propriedades. Esquemas e estruturas são instrumentos de atividade intelectual.
As formas de organização mental do ser humano estão vinculadas aos seus estágios de desenvolvimento. Inicia-se no período intra-uterino e vai até aos 15 ou 16 anos. A inteligência é construída em etapas sucessivas, encadeadas umas às outras. Estágio sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal é a denominação dessas etapas, as quais estão diretamente ligadas à motricidade, à atividade representativa e ao pensamento operatório. Para Piaget, a herança genética, o meio e o funcionamento são os fatores responsáveis para o desenvolvimento racional. Estrutura pré-construída ou heranças corresponde à maturação orgânica. O funcionamento relaciona-se à atividade e o meio físico às transmissões sociais e culturais. Esses fatores tendem a operar de forma coordenada para o desenvolvimento psicológico. A equilibração é outro fator fundamental. O processo de equilibração permite a formação de estruturas cognitivas e essas constituem a expressão da lei funcional, na qual as estruturas cognitivas sejam simultaneamente novas e necessárias. A teoria de Piaget aponta o desenvolvimento da inteligência como uma sequência, uma habilidade de coordenar meios e fins, avança sempre, alcançando níveis cada vez maiores de conhecimento.

Lendo este texto me remeti para uma experiência passada ao desenvolver a metodologia de Educação Ambiental do NEMA na escola. Quando foi elaborado o programa de Educação Ambiental para a Zona Costeira do Rio Grande do Sul Mentalidade Marítima, em 1989, os conteúdos de ciências partiram da pergunta: quais temas gostaríamos de ter aprendido na escola? Assim elaborou-se e trabalhou-se com crianças das séries inicias, as quais iam até o NEMA uma vez por semana. O Mentalidade Marítima, consistia de 15 aulas, com uma visão de macro para micro escala: Do universo até chegar à Planície Costeira do Rio Grande do Sul. O Programa foi referência para a inserção da EA no currículo formal. Vimos outra lógica. Nenhum de nós possuía uma compreensão aprofundada das etapas de desenvolvimento do pensamento. A lógica da escola tinha a ver com isso. Uma criança de primeira série não conseguiria abstrair de tal forma noções sobre a formação da Terra e suas relações cósmicas. Foi necessário mudar a estrutura do Programa.
Esse conflito pedagógico nos levou a elaborar a metodologia das Ondas. Assim invertemos a ordem: partimos da visão de micro escala, a Onda 1 – Quem eu sou?, na qual inicio com o conceito de meio ambiente sendo meu corpo, minha ascendência, minha casa, minha família. Amplio este conceito para o lugar onde vivemos – Onda 2, após para o conhecimento da Biodiversidade, as muitas formas de vida, culturas e etnias, Onda 3, e minha viagem vai mais longe Onda 4 – Biosfera e Ecologia, as relações planetárias, ciclos orgânicos e inorgânicos, a formação do planeta e do sistema solar e daí então chego na Onda 5 – Planejamento Ambiental. Na Onda 5 após me reconhecer como natureza, conhecer o lugar onde vivo, a diversidade da vida e as relações planetárias vou buscar as soluções para os conflitos socioambientais identificadas neste caminho. As Ondas foram contextualizadas nas séries iniciais em todas as disciplinas. Onda 1 – Pré-escola, 1º ano, Ondas 1 e 2 , no 2º ano e assim sucessivamente. Para isso sentamos com a assessoria pedagógica dos municípios do Rio Grande e São José do Norte e professores das escolas e analisamos os currículos sob a ótica conceitual, metodológica e ética, de valores. O trabalho foi feito, mas se está sendo desenvolvido pelos professores é outro capítulo. Talvez se em 1987 quando tudo começou tivéssemos algum pedagogo ou psicólogo na equipe a história teria sido outra. O processo foi intuitivo mas a prática nos mostrou o outro caminho. Esta experiência será contemplada na tese a ser elaborada, uma vez que trata de transformação da realidade e popularização da ciência, este é um bom exemplo a ser discutido.

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