Aprendizagem com o sujeito no centro
Postado por Celso Luiz Lopes Rodrigues
Uma das expressões mais recorrentes em Piaget é a de que "o conhecimento é sempre produto da interação entre sujeito e objeto" e que "a ação [é] a forma mais elementar para a ocorrência das interações entre sujeito e objeto" (SILVA, 2009). Mas a questão segue sendo "que tipo de interação?". PERFEITA A SACADA DAS PERGUNTAS. Piaget propõe: "uma das fontes de progresso no desenvolvimento dos conhecimentos deve ser procurada nos desequilíbrios [que] por si sós obrigam um sujeito a ultrapassar seu estado atual". E não será apenas o cumprimento do plano de ensino o grande fator de sucesso desse processo. Os desequilíbrios precisam ser constatados pelo próprio aprendiz. POIS O FATO DE SEREM CONSTATADOS PELO PROFESSOR SÓ LEVA A JULGAMENTO E NÃO A DESENVOLVIMENTO. Ele só o fará se estiver interessado nisso. Mas para se atingir o interesse do estudante é necessário levar em conta seu estado interior de sujeito pessoal ou "psicológico". Isto é mais claro entre adultos. Estes reagem mais positivamente em termos de aprendizado justamente quando desafiados a uma reequilibração cognitiva. O desafio deve levá-lo a uma agitação interior de curiosidade e insatisfação com o desconhecido. O professor deve assumir seu papel de fator de oposição à segurança cognitiva do aluno. Nessa vertente está a proposta do tipo aprendizagem baseada em problemas. Ela evita a simplificação de origem na apresentação do conteúdo. Prefere uma abordagem usando problemas da área de conhecimento como “mistérios” cativantes ou responsabilidades dadas ao estudante. Este deverá estudar e adquirir o conhecimento necessário para resolvê-los.
Ao se falar em resolver problemas surge a questão: de onde tirar a solução? Piaget apresenta dois conceitos relacionados com isso: reflexionamento e reflexão. O reflexionamento é a projeção da percepção empírica e desorganizada sobre um nível mental mais alto. Este segundo nível se constitui e se estrutura de modo mais complexo e organizado pela reflexão. Pode-se reconhecer aí um processo da criatividade necessária para chegar a novos conhecimentos e soluções. A manifestação criativa do sujeito passa por um “mergulho” na massa de informações incognoscíveis por desestruturadas. Tem uma primeira fase inconsciente que exige do sujeito um certo abandono às circunstâncias (abstração empírica). E uma segunda fase de retomada do controle e reestruturação (abstração reflexionante). O acúmulo de informações e de conhecimentos que vão se tornando anteriores operam como susbtrato para o processo de reestruturação e criação. É algo paralelo ao que acontece com o artista. Este também apreende o mundo interior ou exterior pela abstração empírica e pela abstração reflexionante o exprime de forma coerente segundo uma linguagem. E não se admite uma padronização disso e nem uma aceleração pura e simples. Na formação em ciências e técnicas não é diferente. O que se deve fazer é estabelecer o ambiente e propiciar as experiências adequadas para esse jogo de idas e vindas. E considerando que cada um tem seu ritmo a seu tempo. Indiferente a isso está o professor que imputa a aprendizagem ao ensino e a não-aprendizagem (o fracasso escolar) ao aluno.
Uma área em que isso é crucial é a da Computação. O ensino de Computação tem que se haver com os múltiplos níveis de abstração envolvidos e com a diversidade de sujeitos epistêmicos e psicológicos de alunos e professores. PARTICULARMENTE, A ÁREA DA PROGRAMAÇÃO TRAZ ESSE PROBLEMA, HAJA VISTO QUE É UMA TENTATIVA DE FORMALIZAÇÃO GERAL E PURA, QUE SE DISTANCIA DOS CONTÉUDOS, POIS A PRETENSÃO SERIA ABARCAR A TODOS OS CONTEÚDOS CONTEMPLADOS DENTRO DO TEMA ABORDADO. COMO FARÁ ISSO APARECER NA TUA TESE? Alunos e professores inconscientes dessa complexidade. Resolver problemas em Computação é sempre um processo que exige reestruturação. É necessário criatividade para se programar.HUMMM PRECISAMOS PENSAR SOBRE ESSE CONCEITO DE CRIATIVIDADE. E até para se analisar os problemas. Isto porque não se consegue enquadrar todos os problemas em qualquer modelo previamente estudado. É preciso um trabalho quase metafórico de encaixe da peça certa no nicho correto.OU SEJA, EDUCAÇÃO É PRÁTICA ARTESANAL, NÃO PRODUÇÃO EM SÉRIE. É preciso ter hipóteses múltiplas para serem testadas. É importante prover as descrições e interpretações já elaboradas em sessenta anos de pesquisa e desenvolvimento. Mas a aplicação particularizada demanda diligência e até contemplação em antecipação à proposição de hipóteses. Ao mesmo tempo se opera com os componentes estruturais mínimos e se lança mão da intuição e da visão global. Análise e síntese. Mergulho e emergência.
Ao se aceitar a formulação de que “interação é a gênese do conhecimento” (SILVA, 2004) voltamos ao enigma: como promovê-la significativa e eficaz? Ao professor cabe a execução das técnicas educacionais. E ele só terá êxito nisso “se conhecer o aluno [como] sujeito psicológico [inserto] no sujeito epistêmico [de modo] a propor atividades mais problematizadoras e interativas” (SILVA, 2009). E mais: “o tempo de aprender é o tempo do sujeito e de seu desenvolvimento e não o tempo das leis e dos conteúdos” (idem). (724 palavras)
Referências
SILVA, João Alberto da. O Sujeito Psicológico e o Tempo da Aprendizagem. In: Cadernos de Educação. n. 32:, pp. 229-250, janeiro/abril 2009. FaE/PPGE/UFPel. Pelotas.
SILVA, João Alberto da. Interação: a gênese do conhecimento. Taquara: FACCAT, 2004. (apud SILVA, 2009).
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