A aprendizagem direcionada ao sujeito epistêmico
Lendo este texto recordei de um fato relatado por uma colega. Ela contava que a professora de seu filho havia sido transferida da escola em virtude de sua nova metodologia. Ao escutar esse relato fiquei curiosa e atenta ao que a colega descrevia com tanta indignação. Ela relatou a preocupação da professora. Mesmo disponibilizando aos alunos um questionário na véspera da prova estes ainda assim não estavam aprovando em sua disciplina. Tentando encontrar uma solução para o alto índice de reprovação a professora passou então a fornecer o questionário já com as respostas. Esta atitude causou a indignação dos pais que foram buscar esclarecimentos sobre a metodologia da professora. Perguntei a colega o que ela pensava sobre esta nova metodologia. Ela respondeu que entendia esta “nova forma de aprender” como algo positivo já que as respostas estavam dadas. Seu filho e os colegas teriam apenas que decorar as respostas. Argumentou também que se eles não aprendiam respondendo poderia ser que agora só decorando isto acontecesse. Estudar seria mais fácil já que teriam agora menos trabalho. Ela contou-me que em virtude do descontentamento por parte dos pais dos educandos a professora foi transferia para outra escola.
Percebo que esta professora considera na sua docência apenas o sujeito epistêmico e descarta totalmente as relações que constituem o sujeito psicológico. Para ela o ensino tem um caráter transmissivo fundamentado na memorização. Assim como apresentado no artigo “O sujeito epistemológico e o tempo da aprendizagem (Silva, 2009)” esta professora trata o educando como um sujeito passivo que apenas recebe as informações. A forma com que estas são processadas não é considerada na ação docente desta educadora. Ela preocupa-se apenas com a aglutinação do conteúdo.
No momento em que não obtém o resultado esperado a educadora muda a sua forma de ensinar. Na verdade ela apenas muda a sua metodologia e a concepção de ensino é a mesma. Sua prática esta baseada em uma visão apriorista e empirista do conhecimento. Ao se preocupar com o a forma de como seus alunos memorizam a matéria ela prioriza os conteúdos e descarta as possibilidades de assimilação. E na tentativa de facilitar o aprendizado (que neste caso se resume a memorização) a educadora passa a fornecer também as respostas. Seria interessante que ela levasse em consideração os sujeitos psicológicos com os quais trabalha. Entender o que eles não entendem como forma buscar elementos que possam contribuir no desenvolvimento da aprendizagem significativa.
Como apresentado no artigo os conteúdos devem servir de meio para promover o desenvolvimento da aprendizagem. Mas o que se percebe é que estes apresentam um fim quantitativo. Não importa como aprenderam e o que aprenderam a prioridade é a aprovação final. Não importa tão pouco o tempo de aprendizagem destes alunos. A educadora percebe que a busca das respostas para completar o questionário não está surtindo o resultado esperado. Ao contrário de proporcionar a estes educandos uma atividade que os estimulem a ação reflexiva a educadora tenta dinamizar este processo fornecendo as respostas do questionário. Minha colega bem destacou: já está tudo ali pronto e dado. Desta forma cabe ao estudante apenas decorar os resultados. Ele não precisa pensar. Neste contexto não existe ação e tão pouco operações lógicas.
A importância dada ao conteúdo e o descaso com as formas com que estes são assimilados pelos educandos produzem concepções que consideram mais o sujeito epistemológico em vista do sujeito psicológico. Este fato está naturalizado entre os docentes. O educando é o principal afetado por estas ideias distorcidas. O tempo de conhecimento é próprio do sujeito psicológico e pode variar de acordo com cada indivíduo. Cabe ao educador perceber estas diferenças e desenvolver maneiras de proporcionar aos educandos possibilidades de ações reflexivas para a construção do saber.
Oi Michele,
Boa relação. Pergunto-me se no relato o que a professora não muda é apenas o "método" e não a metodologia. Quanto à escrita, apenas não colocaste as vírgulas, mas elas deveriam estar ali. O objetivo era "torcer" a frase de modo que elas fossem desnecessárias.
Um abraço e parabéns pela postagem cedo.
JA
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