segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Alguém pode explicar isso para a minha ex-professora?

O texto "O sujeito psicológico e o tempo da aprendizagem" refere-se a discussão e problematização de um estudo feito com os professores de uma escola. Inicialmente conceitua o sujeito psicológico: caracteriza-se por sua subjetividade e complementação conceitual ao sujeito epistêmico (universal em relação ao conhecimento) e ao indivíduo (forma geral e objetiva de conceituar o ser humano). Para a escola esse sujeito não existe. Ela compreende o aluno a partir de um ponto de vista do indivíduo ou do sujeito epistêmico. Este sujeito é um ser atemporal e generalizado e serve de padrão para compreender os processos de aquisição do conhecimento. Para Piaget o sujeito passa de um estado de menor conhecimento a um estado de maior conhecimento através da interação com o objeto. A entrevista clínica dos professores da escola foi o instrumento de coleta de dados utilizado nesse estudo. Pelo fato da sua utilização permitir a manutenção do rigor científico e a flexibilidade para as situações inusitadas que aparecem durante a investigação da representação que os sujeitos possuem sobre determinado assunto (PIAGET,1926). O processo de coleta de dados aconteceu respeitando a seguinte ordem: Cada um dos entrevistados teve duas horas-aula observadas pelo investigador. Foram entrevistados onze alunos. Com o estudo, nota-se que a escola tem como objetivo primordial o desenvolvimento dos conteúdos programáticos. O que a escola faz é impor o conteúdo programático como a forma de “estruturar” as operações. Ocorre uma combinação do empirismo e do apriorismo (BECKER, 1993) que atribuem ao aluno uma posição passiva distante da responsabilidade de sua aprendizagem. O processo de abstração engloba dois aspectos funcionais: reflexionamento que é a projeção sobre um patamar superior daquilo que foi retirado de um patamar inferior. Já a reflexão é a reorganização daquilo que foi retirado anteriormente de um nível inferior (N) e projetado em um nível superior (N+1) (PIAGET,1977). Esse deveria ser o objetivo do processo de ensino: o desenvolvimento qualitativo das estruturas para que estejam aptos a assimilar conteúdos em compreensão. Os dados coletados apontam um ensino que está mais voltado a privilegiar processos de abstração empírica do que reflexionante. O tempo em nada é determinado pelo sistema legal. Ele é determinado pela aprendizagem do aluno (perspectiva construtivista). Sabe-se que a aprendizagem é o objetivo primordial da escola. Os professores defendem-se afirmando que a escola atuando dessa forma fornece resultados. Esses resultados são justificados pela “aprendizagem” dos alunos. Com esses conceitos de aprendizagem infere-se que a escola procura proporcionar aprendizagens stricto sensu. Os conteúdos são considerados promotores da aprendizagem. Não há uma preocupação direta com a construção de estruturas capazes de operações lógico-matemáticas. A ação sempre vem acompanhada de um quadro assimilador anterior. As estruturas não se originam da simples ação prática dos objetos e sim das coordenações das ações. Constituindo-se em uma verdadeira ação-reflexão. Em síntese o aluno e seu tempo particular para aprender são negados: o ensino escolar está centrado apenas na ação prática. Um pressuposto fomenta toda essa deturpação teórica: os conteúdos promovem uma melhor aprendizagem e não as estruturas. O ensino dos conteúdos acredita na homogeneidade: todos os alunos são iguais ao entrar e assim deverão permanecer ao sair. O professor acredita que pode apresentar um assunto geral para toda a turma e que sua metodologia (sic) pode ser capaz de ensinar todos da mesma maneira. Ele acredita que a avaliação surge como processo que procura padronizar os resultados. Os sujeitos que não se adaptam a essa postura do professor tem seu fracasso explicado por características inatas. O professor embasa sua prática apenas em uma visão distorcida do conceito de sujeito epistêmico e justifica sua falha no sujeito psicológico. Lendo esse texto consigo fazer inúmeras relações com a minha vivência acadêmica. Acredito que isso se justifique por ter escolhido ensinar Matemática. Uma das disciplinas que mais reprovam no ensino fundamental e médio. O fracasso do ensino de Matemática tem sido alvo de muitos estudos. O professor quando questionado quanto a esse insucesso geralmente responde: faltam os pré-requisitos e atribui esse diagnóstico negativo aos professores das séries anteriores. Quando estava no segundo ano do curso de Matemática Licenciatura cursei uma disciplina que é considerada a mais difícil do curso. A “fama” sempre antecedeu a disciplina. Portando dessa informação me dediquei desde o início com afinco na resolução das extensas listas de exercícios. Essas listas já eram velhas companheiras da professora. Inclusive a acompanham até hoje. Então comecei a tentei “desbravar” o desafio que estava posto. Sozinho não conseguia e os meus colegas estavam na mesma situação ou já tinham desistido antes mesmo de tentar. Recorri aos livros e também não fui bem sucedido. Então fui até a sala da professora. Estava temendo a reação dela. Ela sempre dizia nas aulas que era intolerante com dúvidas básicas. No entanto naquele momento não sabia distinguir se a dúvida era de Matemática básica ou da disciplina dela. Contudo minha vontade de aprovar era maior que qualquer constrangimento que ela pudesse me submeter. Perguntei então a minha dúvida a professora e ela me questionou da seguinte forma: Tu não fizeste a disciplina X? Ela é pré-requisito para essa disciplina. Um pouco constrangido respondi que havia sido aprovado na disciplina. Ela sacudiu a cabeça e passou para a próxima dúvida. Depois disso demorei um tempo para voltar a procurá-la. Encarei a atitude dela como um incentivo para estudar mais e ser um profissional melhor que ela. Contudo nem todos os meus colegas encaram dessa forma. Alguns até hoje são alunos dela. Para essa professora os processos de ensino implicam necessariamente nos processos de aprendizagem. Uma vez que a professora ensina o aluno aprende. É possível afirmar também que ela entende o aluno como um sujeito epistêmico: atemporal e generalizado. Ignora suas particularidades e subjetividades.
Por Robson Porto

Robson,
Gostei que tu avançaste um pouco mais nos conceitos.
Quanto ao uso da vírgula, fizeste mais para o começo um esforço. Quando deixase tua "mão" contar a tua lembrança, faltou um pouco mais de cuidado, pois seria preciso colocar vírgulas.
Valeu pelo esforço,
JA

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