domingo, 3 de outubro de 2010

Texto da Roberta

Recordo de um acontecimento interessante na minha infância: A aprendizagem da operação de divisão na segunda série. A professora fez uso de tampas de garrafa para ilustrar aquilo que estava sendo dito no problema sobre divisão. Eu estava tentando compreender como três balas poderiam ser divididas entre dois amigos. Passou-se mais ou menos umas duas semanas e nada de eu conseguir fazer as tais divisões. Chegou então um bilhete no meu caderno destinado a meus pais: Eu precisava de ajuda em casa.
Meu pai fez muitas contas de dividir e todas as manhãs eu as deveria resolver. Ao chegar em casa para almoçar ele as corrigia. Eu nunca entendia porque estava fazendo tanta conta ao mesmo tempo mas sabia que era preciso para eu aprender. Passou-se um tempo e eu finalmente realizei com êxito uma grande divisão. Aprendi! Finalmente eu entendia o motivo de cada numero estar ali. Entendia que multiplicação e divisão eram muito íntimas. Demorei mais que os demais colegas da classe. A professora já estava passando para outros conteúdos. Nessa ocasião meu tempo de aprendizagem foi diferente do tempo que ela possuía para nos transmitir aquele conteúdo. Como não havia tempo para aulas de reforço ela precisou recorrer ao auxílio nada pedagógico do meu pai. A repetição me fez pensar sobre aqueles exercícios e eu aprendi a essência da divisão.
O texto desta semana me fez refletir sobre este episódio em particular. Na escola costuma-se levar em consideração somente o tempo do ensino. O tempo do conteúdo e a quantidade dele que precisamos “vencer” num determinado período de tempo. E onde fica o tempo do aluno para aprender? Onde está o sujeito psicológico com suas especificidades neste tipo de visão sobre ensino e sobre aprendizagem?
Piaget dedicou-se ao estudo do tempo geral de aprendizagens. Ao entendimento da sequencia de construção das estruturas. Mas não estipulou um prazo determinado para elas. Ele não se preocupou em determinar o tempo da aprendizagem de forma rígida e fixa. No entanto o que vemos na escola muitas vezes é o contrário. E isto não se dá porque os professores não conhecem os estádios do desenvolvimento de Piaget. Justamente isso costuma acontecer com aqueles que o conhecem e se dizem construtivistas. Por má interpretação ou ignorância eles acabam por entender que o tempo da aprendizagem está determinado pela idade cronológica que separa cada período do desenvolvimento. Neste sentido uma criança de 8 anos é bem capaz de entender o processo de divisão. No entanto mesmo eu estando com 8 anos não conseguia aprender aquele conteúdo que estava ali para me ser ensinado porque eu teoricamente teria condições de aprender. Por isso que é preciso levar em conta o sujeito psicológico juntamente com o sujeito epistêmico para poder compreender o tempo de aprendizagem de cada sujeito. Muitas vezes as vivências que uma criança possui possibilitam um desenvolvimento mais rápido do que o de outras. E numa sala de aula teremos muitas vivências e muitas subjetividades para lidar. São muitos sujeitos psicológicos e uma idéia de sujeito epistêmico. Além do conteúdo e do tempo que a escola e o sistema educacional nos dão para trabalhar.
Aprender não é apenas somar conteúdos. Aprender é uma construção singular e quase individual. Não me bastou saber multiplicar para logo rapidamente aprender a dividir. Foi um longo processo de sofrimento intelectual e social. Enquanto não conseguia aprender a dividir eu era sempre vista na sala como alguém em defasagem com relação ao tempo da escola.


Oi Roberta,
Boa relação. Tua escrita está melhorando bastante.
Parabéns,
JA

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